domingo, 1 de maio de 2011

EDITORIAL, de "O Acadêmico"

EDITORIAL



“Os textos filosóficos” – a problemática da leitura no horizonte da formação de uma cultura da reflexão


A propósito do Colóquio de Letras da Faculdade Pan-Americana (Capanema/Pará) e, também, da primeira impressão/circulação do Jornal “O Acadêmico”, discutirei neste Editorial a importância da leitura para o que, nos horizontes da filosofia, costuma-se nomeadamente chamar de “formação de uma cultura da ou para a reflexão”; afinal: qual o télos (finalidade/escopo) de uma Graduação emfilosofia, senão justamente o exercício livre do pensamento tomado aqui como objeto de suas próprias preocupações?... A leitura, cito, a de textos filosóficos especialmente, é um certo tipo de órganon (modelo) representativo desta mesma formação, que apresenta o mesmo caráter fundamental da crítica.
Pode-se dizer que a metodologia específica, tanto de nossa prática docente, quanto de nossa aprendizagem (como discentes) – particularmente no que se refere à filosofia (enquanto disciplina eminentemente acadêmica), perpassa de todo em todo (enecessariamente!...) por uma relação direta quese deve ter com os textos filosóficos.Em outras palavras: a “frequentação” ao conjunto das obras dos grandes pensadoresé absolutamente indispensável, de vez que esta prática é a condição sinequanomde uma boa cultura filosófica. Logo, a base na qual se firma o grandioso edifício do saber filosofante não poderia seruma outrasenão ada leitura...
Indiscutivelmente, ler e, consequentemente, interpretar e escrever são uma das chaves-mestras da formação nos mais variados campos do universo epistêmico (científico), justificando-se, assim, o porquê da “razão filosófica” exigir-nos, reiteradamente, e muito mais do que nas outras disciplinas, a prática da leitura, diga-se, não apenas de comentadores, mas – e em primeiro lugar – de fontes originais.A metodologia específica da leitura dos textos filosóficos sob a forma de “uma filosofia de uma leitura filosófica” vai em direção à natureza da relação do estudante de filosofia com os textos filosóficos (deve ser muito bem conhecida).
Não se trata, portanto, de uma simples apropriação. Vê-se comumente que talento e boa vontade apenas não são suficientes, pois, um bom estudante ou um bom professor (ou comentador) de filosofia – caso queira tornar-se rigorosamente um “filósofo” (amante do saber) – não pode se furtar àquela tarefa de estudar/pesquisar laboriosamente as doutrinas.Este trabalho penoso – que, inicialmente se nos apresenta como uma tarefa ou missão difícil (mas nem um pouco impossível!), ou melhor, a “frequentação” direta e constante aos textos é, justamente, o vestíbulo para uma boa iniciação relativamente ao exercício crítico-reflexivo do pensamento filosófico.
Ler e interpretar um texto de filosofia implica “uma relação original”. E com isso se quer dizer que os “profissionais da área” têm a obrigação de “dominar” os termos técnicos próprios da seara filosófica, porquanto uma boa compreensão de um texto clássico (ou até mesmo contemporâneo), escrito por um livre pensador, requer um largo conhecimento da história da filosofia. Destarte, se nos iniciamos, ativamente, na reflexão mediante uma “visitação frequente” aos textos filosóficos, não constituiria despropósito investigar a natureza desta mesma leitura. Entretanto, devemos advertir que é imprescindível que se tenha, minimamente, uma visão panorâmica do transcurso da filosofia desde a sua origem até aos nossos dias.
Em termos de acúmulo de informação, o estudo historiográfico do pensamento humano não contribui em quase nada para o exercício de nossa racionalidade. Todavia, é por aí que se tem de começar. Antes, porém, cumpre observar que a história da filosofia, neste caso, deve ser filosoficamente considerada. Se nossas investigações acerca da matéria devem partir de uma história da razão, cito, dos gregos até o atual contexto da razão, disto resulta que, no referido itinerário, conseguiremos aprender a distinguir o que é o mais importante à nossa formação. Assim, a natureza da leitura de um texto filosófico é, numa rápida definição, atividade intelectual de pesquisa!...
Se, neste sentido, como se disse anteriormente, ler e interpretar um texto filosófico implica uma relação original, não se deve perder de vista o todo complexo dos problemas que historicamente são colocados pela sophia (sabedoria). Bem compreendido: a história da filosofia é importante, pois talvez ela nos ajude a interpretar melhor o projeto individual de cada filósofo, o qual tem de ser estudado na sua individualidade. Portanto, ler e pesquisar os textos-fontes, digo, prioritariamente os que se configuram como filosóficos, bem como buscar uma visão global do pensamento, tanto no que diz respeito a sua estrutura, quanto no se refere à sua história, são os pontos básicos mais elementares para transformar o conjunto das informações armazenadas em reflexão.Percorrer os argumentos de um filósofo é também pensar com ele, e isto nos põe já em condições de refletir; afinal, como bem disse Immanuel Kant: “não se aprende filosofia, mas a filosofar”...

[1]Wladirson Cardoso é Bacharel/Licenciado em Filosofia pelo Instituto de Filosofia da Universidade Federal do Pará (IFCH/UFPA), Mestre em Direitos Humanos pelo Programa de Pós-Graduação em Direito da Universidade Federal do Pará (PPGD/UFPA), Doutorando em Antropologia da Universidade Federal do Pará (PPGA/UFPA) e Coordenador do Curso de Filosofia da Faculdade Pan-Americana (Capanema/Pará).



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