segunda-feira, 16 de maio de 2011

A História da Estrada de Ferro de Bragança



O discurso encontrado em textos sobre a Amazônia ressalta o tamanho, a grandeza, o imensurável, com os quais se obscurece e se mistifica sua impenetrabilidade, a dificuldade de conhecê-la e compreendê-la. Essa ênfase favorece a proliferação de equívocos, tanto aqueles que subestimam estas características e a importância da especificidade e da diversidade regional, quanto aqueles que as transformam em obstáculos intransponíveis. Ambos os extremos devem ser eliminados da explicação com a qual se aborda a região, quando se procede a uma explicação que visa subsidiar as ações para seu desenvolvimento social.
A área em que se localiza hoje o município de Bragança era habitada pelos índios Apotiangas, da nação Tupinambás, onde existiam várias tribos que povoavam as margens do rio Caeté - por isso também eram conhecidos como índios Caeteuras (ARQUIVO, 1880). Segundo Enciclopédia (1957), foram os franceses da expedição de Lavardière os primeiros europeus a conhecerem a terra dos índios Caeteuras em oito de julho de 1613. Segundo Saraiva (et ali, 1998), a recepção dos índios aos franceses, foi favorável ao visitante, tanto é que franceses procuraram homenageá-los, dando o nome de BENQUERENÇA, a nova terra, que significa: índios Caetés BEM QUISERAM os franceses. Porém, em 1616, a expedição portuguesa comandada por Pedro Teixeira, a qual levava a notícia a Jerônimo de Albuquerque, no Maranhão, da fundação de Belém, passou pelas terras onde hoje se situa o município de Bragança, reconhecendo um forte guardado por franceses numa aldeia indígena (ARQUIVO, 1898). Em Bragança, a Lei Municipal de sete de julho de 1978, reconhece a data de 08 de julho de 1613, como a homenagem à chegada dos primeiros brancos nobres em Bragança, sendo a datação do Feriado Municipal da Fundação de Bragança, ou seja, Bragança é o povoado mais antigo do Pará, quando considerada a fundação inicial pelos franceses, formado dois anos antes da fundação de Belém (pelos portugueses), atualmente com 398 anos.
Segundo dados de Arquivo (1701), o espanhol Álvaro de Sousa recebeu da corte de Madri, as terras doadas por Felipe III da Espanha, por carta em 09 de fevereiro de 1622, entre Tury-açu e Caeté, com 20 léguas ao fundo para o continente, onde procurou desenvolver sua capitania, fundando ao lado direito do rio Caeté, o povoado com o nome de Sousa do Caeté, expulsando os franceses da região, o qual constituiu a origem do município. Após sete anos de sua fundação, a área foi abandonada e transferida para a situação atual da cidade de Bragança, localizada a três km acima de Sousa do Caeté e à margem esquerda daquele mesmo rio, ao lado de uma aldeia indígena. A vila de Sousa do Caeté cresceu para a área alta, onde vários prédios colônias foram construídos, enquanto a aldeia indígena dos caeteuaras desapareceu, surgindo o bairro da aldeia, sem prédios imponentes do período colonial, e mais tarde refugio para os negros.


Foto 01. Cruz Cópita, símbolo do Império Português: homenagem na primeira situação da fundação de Sousa do Caeté em 1634. (2005).

Os negros foram trazidos para Bragança inicialmente por Álvaro de Sousa, donatário de parte da Capitania do Gurupi e Caeté. Poucas são as evidencias concretas que retratam exclusivamente a questão do negro em Bragança, a não ser nos costumes culturais. Saraiva (et ell, 1998) pesquisou nas comunidades remascentes de Quilombo, mas pouco se encontrou, apenas as reconstituições a partir da história oral e do estudo de memória dos anciões nas comunidades de Sereno e Itamoari, legitimas remascentes de quilombos e na vila de Caratateua, onde fundou-se uma fazenda de engenho de açúcar.
Os negros residiam em barracos construídos nos quintais de seus senhores e tinham como responsáveis um feitor. Eram devotos de São Benedito e todos os anos no mês de dezembro, no período de 10 a 27, ficavam de folga, esperando o dia para o plantio nas fazendas dos senhores, o que acontecia logo nas primeiras chuvas. Nesse período, construíram um barracão e a Igreja de São Benedito para suas homenagens ao Santo Preto e, o lado da Igreja, era tudo enfeitado onde apresentavam a ladainha e muitas diversões com danças. No ano de 1798, com consentimento de seus senhores, fundaram a Irmandade do Glorioso São Benedito. Os negros, em agradecimento, dançaram em frente às casas dos seus senhores, surgindo, assim, a Marujada de Bragança.
Na primeira metade de do século XIX, a Vila de Bragança era um dos maiores núcleos populacionais do Estado do Pará. Na segunda metade desse mesmo século, o avanço da industrialização europeia fez crescer a importância de uma matéria-prima tipicamente amazônica: a borracha. Para abastecer a população que se dedicava aos seringais, a roça da mandioca de Bragança foi muito importante nesse contexto, pois em Bragança não tinham seringueiras (FILHO, 1999).
A expansão da demanda no período foi de tal monta que a produção agrícola em torno de Bragança era insuficiente para respondê-la, conjugadas com as dificuldades de comunicação e transporte entre Belém e Bragança, que era bastante difícil, pois o percurso entre as duas localidades levava de seis a oito dias. Nos relatórios do Arquivo (1910), entre 1875 e 1908, o Governo Provincial e Federal financiaram a construção da Estrada de Ferro de Bragança. Entretanto a instabilidade e a fragilidade da economia regional, dependente dos fluxos de exportação da borracha refletiram-se na própria construção da estrada que durou 25 anos (1883 a 1908) para cobrir pouco mais de 200 km.

Foto 03. Trem da Estrada de Ferro de Bragança passando por sobre a ponte do rio Apeú, Castanhal Pará.

Em 1885, a estrada de ferro, em sua construção, atingia o povoado do Apeú, hoje Distrito de Castanhal. Logo após, a obra foi suspensa pelo governo da Província, devido a mesma não produzir rendimento econômico suficiente. No dia 13 de dezembro de 1886, o governo da Província, através da Lei n.º 1.292, resolveu encampar a Estrada de Ferro de Bragança. Quando a estrada foi concluída, o ciclo da borracha começava a declinar. Com o declínio da borracha, na segunda década do século XX, o governo estadual tinha crescentes dificuldades em manter os núcleos agrícolas. Aliado aos ciclos periódicos da seca e às condições precárias da colônia, os migrantes abandonavam a região.
A estrada de ferro teve uma atuação importante no desenvolvimento de Bragança e suas redondezas. A estrada viabilizou a construção de pequenos núcleos populacionais em sua margem, como os de Quatipuru-mirim (Capanema), Castanhal, Santa Isabel e Marituba, embora tenha influenciado pouco na produção agrícola.


REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ARQUIVO PÚBLICO MUNICIPAL. Departamento de documentos históricos. Bragança, Prefeitura Municipal de Bragança. 1701, 789 p.
ARQUIVO PÚBLICO MUNICIPAL. Departamento de documentos históricos. Bragança, Prefeitura Municipal de Bragança. 1880, 789 p.
ARQUIVO PÚBLICO MUNICIPAL. Departamento de documentos históricos. Bragança, Prefeitura Municipal de Bragança. 1901, 789 p.
ARQUIVO PÚBLICO MUNICIPAL. Departamento de documentos históricos. Bragança, Prefeitura Municipal de Bragança. 1935, 789 p.
ARQUIVO PÚBLICO MUNICIPAL. Departamento de documentos históricos. Bragança, Prefeitura Municipal de Bragança. 1910, 789 p.
CONCEIÇÃO. A. M. Viagem do Trem do Passado: história da estrada de ferro de Bragança. Trabalho de Conclusão de Curso. Bragança: UFPA, Curso de História, 1996 (Não Publicado).
ENCICLOPÉDIA DOS MUNICÍPIOS BRASILEIROS. Rio de Janeiro. IBGE, 1957. 14v.
PORRO, A. Os povos indígenas da Amazônia à chegada dos europeus. In HOORNAERT, E (org.). História da Igreja na Amazônia. Petrópolis, RJ: Vozes, 1992. 11-48 p.
REIS, A C.F. A Amazônia e a cobiça internacional. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira; SUFRAMA, 1982. 79 p.
SARAIRA, R. M et ali. A conquista da cidadania negra em Bragança. Trabalho de conclusão de Curso. Bragança: UFPA, curso de Pedagogia, 1998 (não publicado).

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